Comunicação Comunitária e inclusão digital: uma experiência em telecentros comunitários nos primeiros anos do governo Lula

Este livro é resultado da tese de doutorado defendida em 2008, quando os celulares conectados em rede estavam prestes a ser popularizados. A Internet começava a se alastrar em todas as esferas da vida cotidiana e as corporações que gerenciavam o universo online se apoiavam em dois princípios cruciais: manter parte da humanidade do lado de fora de seus limites e usar artifícios retóricos para naturalizar discursos que tinham por objetivo convencer a mesma humanidade que ela estava "toda" do lado de dentro, num largo espaço acolhedor de compartilhamento coletivo. O que mudou de lá para cá, quase 15 anos depois? Nada em termos de princípios norteadores, pois parte significativa da humanidade continua "fora" das inovações tecnológicas e os velhos discursos, embrulhados no papel de presente da inovação, continuam no controle. Dessa vez, com o reforço estratégico de difusão imagética criada pelas empresas que usam artifícios da Inteligência Artificial, consolidando, cada vez mais, a percepção de que "todos" estão (ou em breve estarão) incluídos num universo que recentemente também passou a contar com o "meta" como prefixo. Portanto, os preceitos continuam os mesmos: manter os "de fora" incluídos na exclusão, para que esse sistema impiedoso se sustente com pouca, com frágil ou com nenhuma forma de resistência às narrativas que disseminam na rotina do cidadão comum. Em termos técnicos é possível constatar que uma das mudanças marcantes está diretamente ligada à velocidade com que as perversas formas de subtração humana passaram a ser midiatizadas no dia a dia. Não falo aqui de midiatização enquanto veiculações replicadas nos meios de comunicação, sejam eles tradicionais ou digitais, mas do processo de irradiação de uma lógica que atravessa a estrutura política, econômica, cultural e esportiva com impactos ambientais, sociais e humanos. Trata-se de uma atuação sagaz que opera por encantamento nas estruturas cognitivas, a ponto de diluir ou eliminar resistências aos estragos que se apresentam ao mundo por intermédio dos meios de comunicação tradicionais ou digitais, com a leveza de uma nuvem. Sem dúvidas, os bilionários investimentos tecnológicos que resultaram na aceleração dos ritmos de circulação de mercadorias materiais e imateriais contribuíram para o fortalecimento de refinadas técnicas de difusão consubstanciadas em estratégia de midiatização a serviço da lógica capitalista.

PATRÍCIA GONÇALVES SALDANHA é, atualmente, uma das principais pesquisadoras no país e no exterior sobre Publicidade Social, cuja base é a Comunicação Comunitária. Tem se dedicado às investigações sobre Publicidade Social de Interesse Público com ênfase na causa das Doenças Raras e aos estudos em Midiatização com a perspectiva latina. Fez parte da organização dos livros Mídia e Midiatização do Cotidiano: políticas, subjetividades e produção de sentidos no contemporâneo (Garamond) e Mídia e Cotidiano: novos diálogos e investigações (Letra Capital Ed.). E tem diversos artigos sobre tais temáticas em congressos e publicações nacionais e internacionais. É Professora Associada do Curso de Comunicação Social e Publicidade e Propaganda da Universidade Federal Fluminense (UFF) e membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Mídia e Cotidiano (PPGMC). É líder no CNPq e fundadora e coordenadora geral do grupo de pesquisa Laboratório de Investigação em Comunicação Comunitária e Publicidade Social (LACCOPS). Premiada pelo Movimento Social de Doenças Raras. Por 10 anos, teve forte atuação na estruturação e na vice-coordenação do Laboratório de Estudos em Comunicação Comunitária/ECO/UFRJ (LECC). Atual vice-coordenadora do GT de Cidadania da Compós - Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Comunicação (2024-2026). Foi vice-coordenadora do GT de Cidadania do ALAIC (2012-2016), coordenadora do GT de Cidadania do ALAIC (2016-2018), coordenadora do Intercom Jr. Publicidade (2015), coordenadora do Intercom Jr. Cidadania (2016-2018). Foi coordenadora do Curso de Comunicação Social e Publicidade e Propaganda da Universidade Federal Fluminense (2021-2023). Mestre e Doutora pela Escola de Comunicação da UFRJ.