Brasilidade na ópera

O estudo do Modernismo no Brasil nos mostra a formação da concepção de brasilidade na medida em que tal movimento se propôs a novas definições ou a novas maneiras de interpretar o pensamento nacional e de mostrar os caminhos para o seu desenvolvimento. A ópera Malazarte de Lorenzo Fernândez foi a primeira, no domínio do teatro lírico brasileiro, a preocupar-se com os elementos musicais de brasilidade. Graça Aranha, autor do seu libreto, a partir do interesse pela realidade brasileira apresentou um projeto de construção da cultura nacional baseado no estabelecimento de uma nova relação com a natureza brasileira através das categorias de intuição e integração. A ópera Pedro Malazarte de Camargo Guarnieri foi apontada por Eurico Nogueira França como única exceção de ópera genuinamente brasileira desde que surgiu a ideia da criação da ópera nacional por José Amat em meados do século XIX. Mário de Andrade, autor do seu libreto, envolveu-se no movimento modernista em prol de uma luta ideológica de renovação de toda uma cultura que se via subjugada aos moldes europeus. Nessas óperas foram encontradas constâncias rítmicas, melódicas, tímbricas, processos de harmonização e formas populares, enfim, os elementos de brasilidade discutidos por Mário de Andrade em seu Ensaio sobre a música brasileira.

JOSÉ FORTUNATO FERNANDES
É doutor em Música pela UNICAMP (2012), mestre em Artes pela USP (2003) e graduado em Música pela UNIRIO (1994). É autor dos livros "Educação de adolescentes em conflito com a lei: fatores socioculturais" (2015) e "Educação musical de adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa através do canto coral" (2016). Desde 2011 é professor nos cursos de Música da UFMT. Fez pós-doutorado na Boston University (EUA) com pesquisa sobre música em prisões.