A morte de Ivan Ilitch

Já na primeira página Ivan Ilitch morre, irremediavelmente. Os colegas de trabalho pensam que agora seu cargo estará vago, Praskóvia Fiódorovna pensa no valor da pensão que receberá, um amigo pensa em não demorar-se no velório para não perder o jogo de cartas da noite.
Ivan Ilitch é um burocrata, funcionário público do sistema judiciário da Rússia tsarista. Ambicioso e calculista, suas ações têm sempre como objetivo ascender na sociedade. Casa-se com Praskóvia Fiódorovna, não apenas porque enamora-se dela, mas principalmente porque as pessoas da alta classe social consideram a escolha acertada. O casal tem cinco filhos, dos quais sobrevivem dois. A vida vai seguindo seu curso, com dificuldades, bajulações, com desentendimentos cada vez mais constantes do casal e, finalmente, promoções.
Ivan Ilitch fere-se na região dos rins num acidente bobo em sua casa nova, quando cai de uma escadinha ao mostrar ao tapeceiro como queria as cortinas. O ferimento começa a incomodar, os médicos não acham um diagnóstico. Ivan Ilich piora a cada dia. Angustiado, vislumbra a proximidade da morte. É tomado por intensas reflexões solitárias sobre os mecanismos que regem as relações humanas. Dá-se que se sua morte é irremediável, sua vida também foi.
Das novelas mais poderosas já escritas, em que um homem julga-se e à própria existência humana quando a vida esvai-se dele, A morte de Ivan Ilitch é um retrato profundo da alma humana por um dos maiores escritores de todos os tempos.
Em nova tradução direta do russo de Cecília Rosas

LIEV Nikoláievitch TOLSTÓI nasceu em setembro de 1828. De família aristocrata, aos dois anos fica órfão de mãe, e aos oito, de pai. Depois da morte da avó, seus irmãos e ele vão morar com uma tia, na região de Kazan. Em 1844 começa a cursar a Faculdade de Direito, que logo abandona, mudando-se para Moscou e em seguida para São Petersburgo. De 1852 a 1854, serve o exército russo, na região do Cáucaso. Dessa época é datada sua trilogia Infância (1852), Adolescência (1854) e Juventude (1857), que já o estabelece como escritor. De volta à sua cidade natal, funda uma escola para os filhos dos trabalhadores rurais. Em 1862 casa-se com Sófia Andréievna Behrs, com quem teria treze filhos. Guerra e Paz é publicado em partes entre 1865 e 1869, e Anna Kariênina entre 1875 a 1877. Os dois longos romances figuram entre os clássicos da literatura mundial. Em 1886, publica a novela A morte de Ivan Ilitch, uma de suas obras mais conhecidas e apreciadas. Em 1901, é excomungado pela Igreja Ortodoxa Russa, que considerava seus escritos ofensivos. Sua incredulidade nas instituições e sua visão religio-filosófica do mundo deram origem ao Tolstoísmo, que tem por um dos pilares o pacifismo.
Em 1910, a caminho de um isolamento em busca de uma vida monástica, o escritor morre de pneumonia na estação de trem de Astapovo. Era, então, a pessoa mais famosa da Rússia e um dos escritores mais admirados do mundo.